segunda-feira, 2 de julho de 2012

Mulher integral

Eu faço samba e amor até mais tarde, e tenho muito sono de manhã!” (Chico Buarque)


Ser uma mulher solteira de novo depois de quinze anos (praticamente todos) casada coloca as coisas sob perspectiva. Tempo vivido, tempo passado, tempo ganhado, tempo perdido. Viver sem viver de verdade é perder, tempo e vida.

É claro que eu, uma mulher já caminhando para uma certa maturidade, já não tenho os gracejos dos meus primeiros vinte anos. Mas, ao mesmo tempo, é impressionante como eu tenho todo resto e como eu nem mais preciso de muita coisa externa para ser de fato feliz e livre. Esse pouco que ainda preciso do olhar e do apreço do outro é o tantinho que ainda falta para eu me amar plenamente. Auto amor incondicional, aceitação do meu corpo gordinho, dos meus trejeitos às vezes espalhafatosos, do meu certo estabanamento, das minhas risadas altas... Aceitar as coisas que às vezes os outros veem de bom em mim e eu mesma nem vejo. Aceitar o meu EU integral, porque eu posso ser a mulher que fala bem, escreve bem, passa em concursos, faz mestrado, é interessante intelectualmente e ao mesmo tempo eu ser delicada, feminina, sensual e atraente. Porque dentro de mim mora a donzela, a mãe e a anciã. Dentro de mim há todas as dimensões e todas as facetas, e eu não preciso de ninguém (nenhum homem, sobretudo) para me dizer, ou me fazer mulher de verdade. 

O auto amor é a forma mais satisfatória de amor verdadeiro.


Mônica Coimbra tem 35 anos, é servidora do Judiciário Federal, mora em São Paulo, gosta de cerveja gelada, conversa fiada, rock n’ roll e cozinhar para muita gente. Responde pelo nome de dedicante desdedicada Sibila Melissae, em homenagem a ilha de Iovia e as abelhas, que, particularmente, adora.

sábado, 23 de junho de 2012

A matriz de nossos laços



Qual seria a matriz dos nossos laços?
Seria o explodir de mil sóis no inicio do tempo?
Ou o eterno soprar do vento nos moinhos ancestrais?
Seria ela nascida no cantar de uma sereia
esquecida em mitos medievais?
Ou seria eternamente uma matriz pulsante, viva,
forte e constante como o tambor das festas
das tribos festivas nos antigos matagais?
Poderia ser também a energia de um cometa dançante que
risca o céu brilhante fazendo nascer profanos desejos
nos corações surpreendidos pelo espetáculo celeste.
Já disseram nascida das cores de asas de borboletas,
alguns afirmam ter ouvido histórias sobre ser pó
de estrelas esquecido na terra pelo Universo há eras atrás.
Eu aposto que vem do coração de uma deusa, que encantada
com sua própria beleza, criou uma versão de si mesma,
companheira, sedutora e irresistível para delírio dos mortais.
E o amor, esse vagabundo inconstante, de alma cigana e errante,
pela amizade construiu sua tenda e não nos abandonou mais.
Por isso a matriz de tal vinculo não importa, pois agora temos a
sensação de completude no convexo do reflexo que nos tornamos.
Pela amizade, como a Deusa, por nós mesmos nos apaixonamos
no espelho incompleto e esfumaçante do outro presente
em nosso inconsciente-espaco.
Nossos laços, esse estranho gozo do próximo em mim mesmo, que me
faz tão leve e confiante no eterno dialógico incessante ato de relacionar.
A vocês, a quem me prendo em laços, cuja matriz inicial se fez antes do tempo
e espaço, perdido nos registros akáshicos que nenhuma entidade
dos mistérios seria capaz de ler... dedico a certeza do meu amor mais profundo e eterno,
como a limpidez das águas que levam a magia de Avalon de volta ao mar!


Márcio Boaventura tem 35 anos, é Mestre em Educação, mora em Belo Horizonte, gosta de Coca Zero, da Avalon Sagrada e dos animais. Responde pelo nome de Bran DianCecht, como sacerdote da Tradição Ciranda da Terra, onde há 12 anos segue silenciosamente a lua...

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Foice e o Foco




Geralmente quando eu medito com a Deusa Negra e Sheila desce a foice sem dó, no final eu acabo chorando e lamentando, faz parte do meu processo. Tanto que no geral, quando são questões pelas quais eu tenho apego, protelo o quanto posso para pedir a velha que interceda; e quando chego a pedir é de uma forma tão implorada que a força da lâmina quase sempre é bem drástica.

A consciência do processo deveria auxiliar o distanciamento do drama, mas, a verdade é que nem sempre auxilia. Porém, apesar do dispêndio de energia, pelo menos ainda vou à mata para pedir dona Sheila que me dê uma boa vassourada e ela invariavelmente dá.

Com os anos e as circunstâncias da vida comecei a perder o meu apego por coisas e comecei a acirrar o meu apego por pessoas e relacionamentos. É a pior espécie de apego, porque se a foice corta seu emprego tudo bem, mas se acaba com seu casamento de anos, você pode querer morrer de tanto que vai doer. Mas o bom é que sempre se sobrevive depois, sem o dinheiro, sem o marido ou até sem os dois se for preciso. E essa ode de sobrevivência é a maior ironia da dona da vassoura.

Recentemente eu optei por fazer algo mais drástico, que nunca antes tive coragem de fazer: pedir a velha Sheila Na Gig que compensasse a poda com a clareza necessária para superar a inevitável perda de forma mais eficiente.

Eu acho muito emblemática uma frase que ouço de pessoas evangélicas pentecostais que diz mais ou menos assim: até aqui Deus têm nos ajudado! Pois, a sensação que eu tenho é que até aqui a ceifadora tem ajudado, corta, impiedosamente, o que tem de ser podado e abre clareiras para que eu veja de forma ampla o que a sombra estava anuviando.

Há algumas coisas que simplesmente uma pessoa de boa vontade não pode mudar. Geralmente, o imutável está nas coisas que ultrapassam esse universo que é uma pessoa só, seu corpo físico, suas projeções mentais, seu círculo afetivo e suas dimensões etéreas. É para essas bem poucas coisas que existe a foice cortando o que não pode ser modificado por mim. Para todas as outras coisas há tudo de certo e errado que eu mesma posso fazer por mim! Que assim seja!



Mônica Coimbra tem 35 anos, é servidora do Judiciário Federal, mora em São Paulo, gosta de cerveja gelada, conversa fiada, rock n’ roll e cozinhar para muita gente. Responde pelo nome de dedicante desdedicada Sibila Melissae, em homenagem a ilha de Iovia e as abelhas, que, particularmente, adora.